quinta-feira, 29 de março de 2007
90 anos de Confirmação, Autonomia e Verdades.
Neste ano de 2007 o povo brasileiro tem uma comemoração especial para sua cultura. Completa-se 90 anos que o primeiro samba foi gravado oficializando, assim, a existência do ritmo. Pode-se dizer “especial” porque foi no ano de 1917 que foi dado o pontapé inicial de uma trajetória que muito contribuiu para o brasileiro adquirir uma autonomia e enfim bater no peito com orgulho e dizer que essa música, que hoje é tocada, reverenciada e ensinada nos sete cantos do mundo nasceu aqui, e também ainda é representativa na nossa sociedade.
No período pós-abolição, a então capital do país Rio de janeiro, recebeu ex-escravos advindos da Bahia que por aqui aportaram na zona portuária da cidade. A região conhecida como Pequena-África – que engloba os bairros da Gamboa, Praça Onze, Praça Mauá, Pedra do Sal e adjacências – abrigou não só os ex-escravos como também comunidades de judeus e marinheiros portugueses. Porém é a vinda dos baianos, mas exclusivamente das baianas, que interessa para a história do samba.
As velhas baianas conhecidas como “tias”, eram em sua maioria mães de santo respeitadas, cozinheiras de mão-cheia e grandes festeiras. Suas residências eram famosas por abrigar muita dança, bebida, comida e música. A mais famosa delas era a Tia Ciata que na sua casa conseguia reunir os maiores operários da música popular da época. Na sua sala de estar, os convidados dançavam juntos ao som de um chorinho suave tocado sempre por flauta, piano e violão; na sala de jantar era o pessoal do samba, a dança dessa vez era individual, e na música continha o som de instrumentos de batucada unidos aos de harmonia; Já no quintal (quando não tinha o mesmo samba), era o terreiro das danças de candomblé e capoeira.
Foi numa dessas festas na casa de tia Ciata que Ernesto dos Santos, mais conhecido como Donga, apresentou um samba de sua autoria em parceria com o jornalista Mauro de Almeida. Em meio a nomes como João da Baiana, Sinhô, Pixinguinha e Bucy Moreira, Donga cantou e encantou os presentes com sua obra um pouco diferente, mesclando um pouco de partido-alto e maxixe. O samba foi gravado somente em 1917 pelo cantor Bahiano e assim se tornou o sucesso do carnaval daquele ano e marcou o início dessa grande história.
A música era “Pelo Telefone” e com passar dos anos foi regravada outras muitas vezes e por diversos artistas, porém, em nenhuma delas é tocada a versão original da letra. A versão que realmente ficou conhecida foi uma sátira feita por Mauro de Almeida para alertar e zombar com o chefe da polícia daquela época, Aurelino Leal: “O chefe da polícia pelo telefone mandou avisar / Que na carioca tem uma roleta para se jogar...”
Confiram aqui a versão original completa:
“O chefe da folia pelo telefone manda me avisar / Que com alegria não se questione para se brincar.(bis) // Ai, ai, ai...Deixa as mágoas para trás ó rapaz / Ai, ai, ai fica triste se és capaz e verás. (bis) // Tomara que tu apanhes / Não tornes a fazer isso / Tirar amores dos outros / Depois fazer teu feitiço // Olhe a rolinha / Sinhô, sinhô / Se embaraçou/ Sinhô,sinhô / Caiu no balanço / Sinhô, sinhô / Do nosso amor / Sinhô, sinhô / Porque este samba / Sinhô, sinhô / É de arrepiar / Sinhô, sinhô / Põe perna bamba / Sinhô, sinhô / Me faz gozar / Sinhô, sinhô // O “Peru” me disse / Se o “Morcego” visse / Eu fazer tolice / Que então saísse / Dessa esquisitice / De disse que não disse // Ai, ai ,ai aí está o ideal, triunfal / Viva o nosso carnaval, sem rival // Se quem tirar o amor dos outros / Por Deus fosse castigado / O mundo estava vazio / e o inferno só habitado // Queres ou não / Sinhô, sinhô / Vir pro cordão / Sinhô, sinhô / Do coração / Sinhô, sinhô / Por este samba.”
Filho de uma baiana, o compositor Donga começou a aprender cavaquinho com 14 anos de idade. Com o passar do tempo foi trocando o seu primeiro instrumento pelo violão, e se tornou um integrante do grupo Caxangá, de onde faziam parte também o violonista João Pernambuco e Pixinguinha. Posteriormente fez sucesso depois que formou com o próprio Pixinguinha “Os Oito Batutas”, o primeiro grupo formado somente por negros realizar uma turnê internacional. Na história do sambista tem ainda outros projetos nacionais e internacionais com outros grandes nomes da música. Dentre seu extenso arsenal de composições “Pelo Telefone” foi a mais importante, não só pra ele como pra todos nós.
Axé para Donga. E a história continua...
1 comentários:
Meus amigos,
29 de março de 2007 às 16:25Parabéns pela iniciativa! A partir de agora me torno frequentador assíduo e admirador deste espaço de valorização e divulgação do nosso samba.
Abraços
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