Aquele Abraço

Ontem, dia 16 de maio, foi realizada a 5ª edição do, já consagrado, Prêmio Tim de Música. Como é costume do projeto, o premio homenageia a cada ano um artista importante para a musica brasileira, sendo esse ano o grande compositor Zé Kéti.
Em virtude disto, muito se falou na mídia em uma verdadeira festa do samba. O primeiro show da noite foi de Milton Nascimento cantando Opnião. Acho a escolha errada, podiam convidar cantores com maior historia no samba, como por exemplo o próprio Elton Medeiros que também se apresentou ao lado da cantora Negra Li para abrir a festa já que oi grande parceiro de Zé Kéti.
Mas os pontos fracos começaram mesmo na talvez mais famosa musica do homenageado. A Voz do Morro não é e nunca poderá ser a de Gilberto Gil. O excelentíssimo ministro “não é o samba”, muito menos “o rei dos terreiros”, “natural do Rio de Janeiro”. Se o premio queria alguém com o tão falado “apelo Pop” que chamassem Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, que estão mais na mídia. Não sei a quantas anda sua saúde, mas imaginem uma dupla homenagem nesse momento com Jamelão interpretando a musica. Ou ainda uma união das Velhas Companheiras, velhas guardas de Mangueira e Portela juntas, mostrando ao mundo e aos jovens de hoje que assim como Zé Kéti construiu a historia musical do samba, transformando-o em gênero maior da nossa cultura.
E não é que o samba possui uma categoria própria na premiação. E começo com um elogio. Assim como havia dito na postagem anterior sobre o cd do Guilherme de Godoy, o premio de melhor disco de samba foi para um cd independente. O vencedor foi Tantinho da Mangueira, com o cd “Memórias em Verde e Rosa”. Quanto ao melhor cantor, também nada há de se contestar. Zeca Pagodinho se tornou unanimidade, e o fato de ser ídolo de muita gente apenas por estar na moda, não tira o mérito dele, que sempre defendeu o samba verdadeiro.

Quanto aos outros dois prêmios da categoria, muito há de se questionar. A melhor cantora de samba para os julgadores do premio é também a melhor cantora da categoria pop/rock. Só isso seria o suficiente para causar certo desconforto. Tudo bem que a Marisa Monte produziu discos da Velha Guarda da Portela, gravou com Paulinho da Viola e Mauro Diniz, mas isso não a torna cantora de samba, mas sim uma grande colaboradora do gênero.
Mas o pior estava por vir. O premio de melhor grupo de samba estava entre 3 concorrentes. O já mais do que consagrado Fundo de Quintal, o grupo revelação Galocantô e, sei lá por que loucura, o grupo Quarteto em Cy (não tem uma categoria MPB?). o resultado foi o esperado. Ganhou o grupo Fundo de Quintal. Mais do que merecido, afinal, o grupo fez muito pelo samba, lançou o movimento do pagode na década de 80 (o pagode verdadeiro não o pagode pop), trouxe junto à sua trajetória artistas como Beth Carvalho, Jorge Aragão, Sombrinha, Arlindo Cruz, Neoci, e o próprio Zeca Pagodinho. Mas esse mesmo grupo não podia ganhar o premio de melhor grupo de samba pelo CD “Pela Hora”. Não é justo com a historia honrosa do Fundo de Quintal, que infelizmente vem a cada ano se tornando mais parecido com grupos como o Revelação e menos com aquele que era antes.
Diante de um grupo em declínio musical (opinião pessoal minha que pode ou não ser compartilhada.), um grupo de MPB (sigla que até hoje não entendi, ou o samba, o frevo, o funk, o sertanejo, não são musicas, populares e brasileiras? Ta bom o funk num é musica mas o resto se encaixa perfeitamente nessa definição.), e um grupo que vem surgindo com força no cenário do samba carioca, eu fico com a boa juventude.
E continuamos na luta para sermos sempre o samba de Zé Kéti, mostrando ao mundo que temos valor e trazendo a alegria para milhões de corações brasileiros. Aos outros, “Aquele Abraço”.

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O Samba Sabe o Que Quer!

Volto a escrever depois de alguns dias sem computador e como a situação ainda não esta muito bem resolvida por aqui e, para não deixar o blog parado por muito tempo, vou por enquanto postar letras de sambas pouco conhecidos mas que transmitem uma mensagem semelhante à que aqui tentamos transmitir.
E para começar trago a uma letra de Guilherme Godoy, musicada por Sergio Botto. A musica se chama “O samba sabe o que quer” e foi gravada no homônimo disco, produzido pelo próprio Guilherme Godoy. Na gravação, recebeu todo o requinte que merece pela letra, nas vozes de Delcio Carvalho, Tânia Machado e Walter Alfaiate. Bom vamos a letra.

“Samba, melodia que me toca
Me protege e acaricia
Feito os braços de mulher
Desde que a Ciata minha tia
Deu inicio à fidalguia
O samba sabe o que quer
Me desculpe tanta nostalgia
Mas meu peito não vicia
Com esse samba que é tocado por ai
Me martela o radio o dia inteiro
Só que o samba verdadeiro
Foi aquele que aprendi
Apreciador de jóia-rara
Delcio e Dona Ivone Lara
Embalando o sonho meu
Trago o fino de Carlos Cachaça
Herivelto e aquela praça
Que o Rio jamais esqueceu
Tempos idos mas sempre lembrados
Gênios homenageados
Pelo povo, no fundo do coração
Este é que é o bom samba, meu parceiro
Velho e novo, brasileiro
Que mantém a tradição
Samba de Noel, Cartola e Noca
Silas, Geraldo Pereira
De Monarco e Ismael
Wilson, o que é Batista e o que é Moreira
Paulinho e João Nogueira
O Martinho lá na aba do meu chapéu
Quero ouvir no radio da vizinha
Chico, Elton, Gonzaguinha
E o Nei Lopes recordando o andaraí
Beth, Zeca, Roberto Ribeiro
Nelson Sargento Guerreiro
E um samba Tijucano do Aldir
Um delírio meu no bar da esquina
Elizete e Clementina
Clara é a luz de Candeia
Dilermando e Ciro na caixinha
Uísque, gelo e o poetinha
Tom Jobim com seu piano na velha Mangueira
Vem mais gente que carrega a chama
Dorival, Zé Kéti inflama
O peito que não se encerra
Ginga, Guinga, Joyce, Clara e Ana
E a Rosa Passos baiana
No samba da minha terra”


Esse samba serve como bandeira para o que tentamos nesse blog. Mostrar que o samba tocado por ai, martelado na sociedade pela mídia e gravadoras nunca irão “viciar nossos peitos”. Poucas as exceções que podemos ver atualmente e nesse caso vale destacar a radio Roquette Pinto (FM 94,10), do Governo do Rio, que ainda destina parte do seu horário ao samba verdadeiro, bem como ao choro e outras musicas genuinamente brasileiras.
Por fim, deixo a dica do CD em questão como um excepcional disco de musica brasileira, pois não é apenas de samba mas também choro, valsas e canções. Como o disco é independente, o que alias tem sido grande parte das boas produções musicais contemporâneas, mas como diz o Caio isso é outra historia, apenas alguns lugares mais seletos o possuem.
“O fato é que hoje em dia o brasileiro só agita sua bandeira verde e amarela quando o sentimento fala alto e, conseqüentemente, esse sentimento só desperta em nossos corações se movido pela arte, seja a do futebol ou da musica por exemplo. No momento de tentativacada vez mais evidente de padronização do gosto musical por parte da “grande industria” só mesmo com iniciativas desvinculadas como esse CD de Guilherme Godoy e Sergio Botto podemos estar na boiadasem ser necessariamente boiada. E de olhos abertos, com os corações a jorrar a energia criativa da nossa nação cultural.
Este é o Brasil lindo e autêntico que nos faz agitara bandeira do samba que não pode parar.”
(depoimento de Antonio Adolfo extraído do encarte do CD “O samba sabe o que quer. A musica de Guilherme de Godoy e Sérgio Botto".)

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