terça-feira, 3 de abril de 2007

Mestre Marçal, o meio de uma dinastia.

Nilton Delfino Marçal, nasceu em um berço que não era repleto de ouro ou jóias, não descendia da aristocracia carioca, contudo não há de se negar que possuiu um berço esplendido. Nasceu no ano de 1930 no carioquíssimo bairro de Ramos dando continuidade a uma verdadeira dinastia no samba.
Filho de Armando Vieira Marçal, que ao lado de Alcebíades Barcellos, o Bide, ajudou a consagrar a nova maneira de se fazer e cantar samba do Estácio, Mestre Marçal se mostrou um verdadeiro coringa em matéria de samba.
Poucos comandavam com tanta maestria baterias de escola de samba como ele, com suas afinações de instrumentos bastante particulares, como comprovado em seu disco “A incrível bateria do Mestre Marçal” (1988), disco em que gravou com bateria comandada por ele tocando o fino dos sambas-de-enredo. Sua historia com as escolas de samba teve inicio na escola Recreio de Ramos, onde começou na ala de tamborins. Seguiu sua trajetória de sucesso indo para a Unidos da Capela, Império Serrano e por fim Portela escola na qual comandou por 20 anos a bateria, saindo nos anos 80 após desentendimentos com o então presidente Carlinhos Maracanã..
Mas Marçal não se contentou com sua trajetória de mestre de bateria, seguindo também para uma carreira, não menos brilhante, de cantor. Nesta, resgatava sambas históricos da dupla Bide e Marçal, como em “Não Diga a Ela Minha Residência”, passando por outra dupla, esta mais contemporânea, na linda melodia de “Desalento”, de Chico Buarque e Vinicius de Moraes, chegando à geração do Pagode (entende-se a geração Cacique de Ramos, protagonizada pelo Grupo Fundo de Quintal e Zeca Pagodinho, e não o neo-pagode, gênero introduzido à força pela mídia no contexto do samba, mas mais uma vez, isso é outra discussão), com a gravação da irônica “Até de Avião”, dos irmãos Arlindo Cruz e Acyr Marques, e Luiz Carlos da Vila.
Outra virtude sua eram as frases sempre fascinantes como: “quem muito procura, quando acha não reconhece” e “não me interessa o preço da banha, eu quero é comer engordurado”. Quando lhe perguntavam como andava, respondia de bate-pronto, “vou comendo pela beirada enquanto o meio esfria”.
Para encerrar o papo sobre o Mestre Marçal, deixo um recado gravado por ele em seu LP "Senti Firmeza", gravadora Barclay/Polygram, no ano de 1986. A faixa, intitulada "Aos Novos Compositores", do trio Arlindo Cruz, Acyr Marques e Chiquinho Virgula, manda um recado à nova geração de compositores, que será sempre responsável por dar sequência à tradição legada pelos velhos bambas, mostrando que a raiz do samba continua dando frutos em profusão.

"Mil perdões pelo meu senso
De criticar
Mas existo, logo penso
E pensando vou falar
Aos novos compositores
Promissores, empolgados
Reconheço alguns valores
Realmente inspirados
Mas tem gente forçando barra
Gente querendo inventar
Fazendo samba na marra
Sem ligar pra criação
Dessa gente eu gostaria de atenção
Pois nessa terra de ninguém
O samba se mantém
Porque mantém a tradição
Ôôô estou querendo criticar pra construir
Pra não deixar quem é do contra criticar
Pra acabar com o argumento de quem diz
Que o samba não frutificou, só tem raiz
Vamos escrever ouvindo a voz do coração
Deixar fluir a verdadeira inspiração
E assim realmente criar
Para continuar o que nos ensinou, velhos bambas
Só assim, sem ter o que falar
Eles vão se curvar, vão cantar e tocar novos sambas"

2 comentários:

Anônimo disse...

Biellllllll!!! Shoooowwww a iniciativa d vcs!!!
Ameiii!!! Virei sempre aqui prestigiar essa coisa linda q vcs fizeram!!!

Parabéns!!! Ficou mtoooo legal!!!

4 de abril de 2007 às 00:03
Artur de Bem disse...

Entrei aqui por acaso, procurando a letra do samba "Aos novos compositores" e achei essa postagem sobre o Mestre Marçal.

Esquecesse de comentar o que, pra mim, é o mais importante: a parceria dele com Luna, Elizeu e Dotô nas gravações de TODO MUNDO do samba.

Inclusive, na gravação do cd em homenagem a Bide e Marçal, todo mundo pra quem ele gravou fez o coro. É, até hoje, o coro mais caro de toda a história da música brasileira, se fosse pago. Foram todos de graça como uma forma de agradecer pelas gravações que ele fez.

Abraço!

19 de abril de 2009 às 23:25
 

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